Você sabia que Florença foi destruída parcialmente durante a Segunda Guerra Mundial? Neste post eu conto quais monumentos da cidade foram bombardeados e quais sobreviveram aos ataques dos nazistas.
Quando pensamos à Segunda Guerra Mundial e à ocupação da Itália pelas forças Nazi-Fascistas, é difícil pensar como muitas maravilhas da arte e da arquitetura italiana conseguiram sobreviver aos bombardeios. No caso específico de Florença, foi um verdadeiro milagre.
Após deixar Roma, os soldados alemães marcharam para o norte, rumo a Florença. Uma vez na cidade, eles receberam ordens bem precisas: para dificultar o avanço das tropas aliadas, e não dar nenhuma vantagem a estas, teriam que explodir toda e qualquer ponte de Florença, exceto Ponte Vecchio. Segundo as estratégias militares, a destruição das pontes seria um obstáculo a mais para os Aliados, facilitando a retirada dos soldados alemães.
Ocupada pelas tropas nazistas há um ano, por várias semanas a população de Florença ouviu boatos que os alemães iriam destruir as pontes da cidade. Extremamente preocupados que isso pudesse acontecer, uma delegação de florentinos, liderados pelo Arcebispo e pelo Secretário da Cultura da cidade, tentaram desesperadamente negociar com o comandante das tropas alemãs. Nada adiantou. Os alemães não cometeriam o mesmo erro que fizeram apenas dois meses antes, quando pouparam as pontes de Roma e deixaram o caminho livre para as tropas aliadas avançarem.
Assim, no início de agosto de 1944, Florença chorou a perda de quase todas as suas pontes, destruídas uma após a outra: primeiro a Ponte alle Grazie, depois a de Santa Trinita, a Ponte alla Carraia, a Ponte alla Vittoria e, por fim, a explosão mais forte que destruiu os edifícios de Por Santa Maria, da Via Guicciardini, da Via dei Bardi, de Lungarno Acciaiuoli e Borgo San Jacopo.
Por que o Ponte Vecchio não foi destruído?
Existem muitas lendas por trás desta explicação. Há quem diga que Hitler havia dado ordens específicas para não destruir aquela ponte, pois teria se apaixonado por ela após a sua visita à cidade em 1938, mas não existe nenhuma prova concreta disso.
Quando Mussolini recebeu a visita do seu aliado pouco antes do início da II Guerra, teria mandado até abrir uma das janelas do Corredor Vasariano para que o Fuhrer pudesse admirar melhor a cidade. Hitler era um amante da arte e teria gostado tanto do Ponte Vecchio, justamente por sua história e por seu estilo único. Assim, quando lhe foi comunicado que seria necessário destruir as pontes de Florença, ele teria dado ordens claras para que fosse deixada intacta a Ponte Vecchio.
Mas a verdade sobre essa história, hoje esta descrita em uma das placas na Ponte e que poucos turistas reparam:
Gerald Wolf, cônsul alemão teve uma importância unica para a salvação do Ponte Vecchio, convencendo os soldados a não bombardea-la e ainda salvando judeus e perseguidos políticos.
De qualquer maneira, para salvar a maravilhosa ponte, os alemães abateram os edifícios nas duas margens do rio, obstruindo completamente seus acessos e, por isso, muitos dos edifícios histórios ao longo do Arno foram inteiramente destruídos.
Florença destruída e reconstruída
A destruição das pontes provocou um enorme estrondo, que por sua vez causou outros danos aos edifícios da área. No início da manhã do dia 4 de agosto de 1944, chegaram as primeiras tropas aliadas. Entrando na cidade, os soldados encontraram uma cidade quase irreconhecível, com muitos monumentos, casas, torres e palácios destruídos para sempre. Felizmente, boa parte das obras de arte tinham sido colocadas em um lugar seguro antes do início das batalhas, por isso o dano foi menor.
Os soldados alemães ainda resistiam nas colinas ao redor de Florença e disparavam tiros de canhões contra cidade. Foi assim que o Campanile di Giotto foi danificado e a estátua da Virgem Maria na Loggia del Bigallo (Piazza della Signoria) foi decapitada. Mas quando as tropas aliadas iniciaram a combater juntamente com os Partigiani, derrotaram os soldados do Eixo. A chamada Batalha de Florença terminara e os florentinos finalmente podiam voltar, mesmo aos poucos, à vida normal.
Com o término da guerra, os florentinos arregaçaram suas mangas e iniciaram a reconstrução das pontes, entre elas a da bela Ponte Santa Trinita, projetada durante a Renascença por Michelangelo e construída pelo arquiteto Bartolomeo Ammannati. A população organizou um comitê chamado “Dov’era e Com’era” (em português, Onde Ficava e Como Era) e no início dos anos 50 iniciaram a reconstrução da ponte exatamente como ela era, ao invés de substituí-la com uma ponte moderna, como haviam hipotizado inicialmente. Utilizaram na reconstrução todos os fragmentos da pinte original que conseguiram recuperar e foi reaberta a jazida dos Jardins de Boboli, de onde tinha sido retirada a pedra usada por Ammannati.
Finalmente, em 1958, quase 14 anos após a sua destruição, a Ponte Santa Trinita foi inaugurada.
As quatro estátuas que decoravam a ponte foram recuperadas nas águas do rio Arno, mas uma delas, a Primavera, estava sem a cabeça. Nos anos 60, um antiquário da cidade prometeu uma recompensa de 5.000 dólares a quem encontrasse aquela cabeça. A mesma foi encontrada em 1961 pelos “Renaioli”, os homens que transportavam mercadorias pelo Rio Arno. A cabeça da estátua desaparecida inspirou o diretor de cinema americano Spike Lee em seu filme Milagre em Santa Anna.
Dá para imaginar como uma cidade incrível como Florença, com um dos patrimônios artísticos mais preciosos do mundo, quase tenha sido destruída pela irracionalidade da guerra? Quando for a Florença, observe suas pontes e pense nisso.
Fotos: Wikipedia Commons, grupo facebook Vecchia Firenze Mia, arquivo pessoal.
Incrível, não sabia que Florença tinha sido destruída desse jeito, muito interessante esse post. Abs.
Incríveis as imagens de destruição e como a cidade se recompôs ano após ano. Ainda bem!
Obrigada Leidiane..
Seus posts tem muita qualidade! Obrigada por mais essa lição. .
Muito obrigada pelo cariho!