Assim como vimos em Florença, no dia 25 de março também se comemora em Pisa o Ano Novo (o Capodanno Pisano), pois o Calendário Stile Pisano era diferente do calendário Gregoriano, conheça esta história e veja a programação da festa desde ano.
Texto de 2013, atualizado em 15.03.2024
Vamos primeiro conhecer porque o Calendário Pisano era diferente:
Os calendários
A ideia de um fim e um início do ciclo anual era dado pelo retomada do aumento gradual dos dias pela noite e é marcada pelo solstício de inverno. O início do ciclo natural da vegetação, com recuperação do trabalho no campos pela primavera, coincide com o fenômeno astronômico do solstício de inverno. As sociedades agrícolas antigas estavam inclinadas, muitas vezes para começar o ano em um dia em torno do equinócio de março, sendo também o início da colheita e trabalho nos campos. No entanto numa sociedade agrícola como Romana, não se hesitou em escolher o calendário de Rômulo, onde o ano começava em março.
Foi Júlio César, em 45 a.C, a codificar esta inovação, definindo o início do ano com o dia primeiro de Janeiro, porém durante a Idade Média, as formas de calcular o início do ano foram se multiplicando e, durante séculos permaneceram sem mudança.
Com o Cristianismo foram as festas religiosas à marcar o tempo. O início do ano foi estabelecido segundo os diferentes lugares, principalmente em uma dessas duas datas: a Anunciação (25 de Março) ab Incarnatione ou no Natal, com a natividade (25 de Dezembro).
A consideração geral sobre a primeira escolha (25 de março) é que o ciclo anual começa simbolicamente com o primeiro ato de salvação, que é a encarnação de Cristo, momento em que Verbum caro factum est. A escolha do Natal, que cai nove meses depois, liga-se o início da “aparição da Palavra entre os homens”, como festa mais solene do cristianismo, então a opção que depois prevaleceu.
Com a queda de Roma em 476 d. C, e com o fim das invasões bárbaras na Idade Média, surgiram as repúblicas livres e cidades livres. Tantas cidades italianas elaboram então diferentes unidades de pesos e medidas, cunhando as suas próprias moedas, instituíram as suas próprias leis e impostos, e também criaram seus próprios calendários, retornando, em muitos casos, para coincidir com o início de um evento ou uma festa da primavera.
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O calendário atual
O calendário atual foi instituído pelo Papa Gregório XII para realinhar a mudança da fase do equinócio invernal causada pela imprecisão inerente ao calendário juliano, que foi baseado em um comprimento médio do ano de 365 dias e 6 horas, cerca de 11 minutos a mais que o ano tropical. O calendário, que leva o nome do Papa Gregório e foi concebido pelo calabrês Luigi Grillo, foi posto em prática em 1582, quando se passou do dia 4 de outubro ao dia 15 de outubro em uma só noite.
Uma curiosidade: o calendário gregoriano foi adotado na Inglaterra, depois de quase dois séculos, enquanto a Grécia, Sérvia e Rússia até a Primeira Guerra Mundial ainda era usado o calendário juliano. Mesmo em Pisa e em Florença o novo calendário não teve uso imediato da sua proclamação pelo Papa. Foi somente com o decreto Granduca de 20 de novembro de 1749, que impôs aos Toscanos o uso do calendário gregoriano, em seguida, estabeleceu o novo ano em janeiro.
Pisa, a república marinara, e o seu calendário
O chamado “stile pisano”, era um tipo especial de calendário em uso em Pisa até meados do século XVIII, que indicava o início do ano no dia 25 de Março (festa da Anunciação da Virgem Maria de acordo com o calendário litúrgico), antecipando-se nove meses e sete dias do calendário stile moderno ou “stile della Circoncisione“, estilo que usamos hoje, indicando a dia 01 de janeiro como o primeiro dia do ano.
Então em Pisa foi definido então coincidir o início do ano com o dia da Anunciação (e, portanto, a Encarnação de Jesus) , ou seja, nove meses antes do dia de seu nascimento, 25 de dezembro. Decidindo assim chama-lo de Anno Pisano ab Incarnatione Domini (ou de Cristo ). O dia 25 de março então, se tornou o primeiro dia do novo ano civil, o que, em seguida, seria concluído em 24 de março do ano seguinte. O primeiro documento datado no Estilo Pisano (usa-se colocar as letras “sp” abreviado ) remonta a 985.
A data de 25 de Março tem um duplo significado: é o dia da Anunciação à Virgem Maria (a quem é intitulado o Duomo de Pisa) e está próximo do equinócio da primavera, que vê o despertar da vida após os rigores do inverno.
Precisamente por esta razão março foi escolhido entre muitas outras cidades para estabelecer o início do ano: como Florença e Siena, que também escolheram o dia 25, no entanto, um ano mais tarde do que a cidade de Florença. Por isso em Pisa entramos em 2018, enquanto em Florença, é o início de 2017.
O calendário Pisano permaneceu em vigor durante séculos, mesmo nas terras pertencentes à República de Pisa: como a costa entre Portovenere e Civitavecchia, nas Ilhas de Gorgona, Elba, Pianosa, Córsega, Sardenha, além das Ilhas Baleares, Gaeta, Reggio Calabria, Tropea, Lipari, Trapani, Mazara, Tunísia, Argélia, Egito, Palestina, Síria, a cidade de Azov (no mar de mesmo nome, na foz do rio Don ) e finalmente Constantinopla, onde os Pisanos e venezianos eram os únicos ocidentais a serem capazes de se estabelecer.
Este calendário durou até 20 de novembro de 1749, dia em que o Granduca da Toscana, Francesco I de Lorena determinou que em todos os estados da Toscana, no primeiro dia de janeiro do ano seguinte, começava o ano de 1750. Assim, o estado Pisano, formado aproximadamente pelas atuais províncias de Pisa e Livorno, teve que se conformar com o uso do calendário gregoriano como o resto da Toscana.
Na década de 80 do século XX se voltou a falar sobre essa festa, e desde então o Ano Novo é sempre o mais esperado e comemorado, com inúmeras iniciativas culturais e até mesmo de convívio em restaurantes e locais históricos da cidade.
Foi graças ao estudo e paixão por Pisa, que Paulo Gianfaldoni, um grande historiado que estudou por anos a história da cidade, voltou a atenção dos cidadãos de vários festas e tradições esquecidas, inclusive esta. Ele recuperou a história do raio do sol que ilumina a Catedral somente no dia 25 de março de cada ano, uma tradição que existia desde o início da construção do Duomo de Pisa, depois do ano 1000.
Hoje, como ontem, o início do Ano Pisano é marcada por uma espécie de relógio de sol: ao meio-dia, a cada 25 de março, um raio de sol penetrava no Duomo de uma janela chamada Aurea atingindo uma área no altar. Ao longo do tempo este relógio falhou por causa de mudanças de rotação da terra do século XVII. O mecanismo solar foi restaurado no final do século XIX e XX, usando uma janela diferente e definindo o ponto onde conduz a luz do sol e define a chegada do ano novo, em um ovo de mármore colocado sobre um pilar ao lado de onde foi remontado o púlpito de Giovanni Pisano em 1926.
O evento hoje é precedido por um cortejo histórico da República Marítima dos Comuns e Gonfalones Pisanos e é comemorada com uma breve cerimônia religiosa, que termina às 12 em ponto.
Momento em que a igreja lota de pessoas que esperam que o raio de sol atinja finalmente o ovo de mármore (ovo sempre símbolo de vida nova) para comemorar o início do novo ano “stile pisano”.
O Capodanno (Ano Novo) de Pisa é o mais famoso da Toscana e o que possui mais manifestações e festas de toda a Toscana, superando muito a festa fiorentina. Veja a programação abaixo.
Programação do ano novo de 2025!
11:15 – Catedral: liturgia da Palavra e momento de oração na festa da Anunciação do Senhor
12:00 – Cerimônia do raio de sol. O momento de transição para o ano novo é diferente do tradicional, que não corresponde à meia-noite, mas ao meio-dia, quando de uma janela da nave central da Catedral um raio de sol ilumina a prateleira em forma de ovo colocada no pilar ao lado do famoso púlpito de Giovanni Pisano.
Vamos comemorar 2023 em Pisa?
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