Nova série do Passeios na Toscana, aborda o gênio Michelangelo, contando sobre os locais onde trabalhou Michelangelo. No primeiro texto abordo a Biblioteca Medicea Laurenziana.
Michelangelo nasceu em Caprese na Toscana, no dia 6 de março de 1475 e morreu em Roma, no dia 18 fevereiro de 1564 aos 89 anos. Foi um grande escultor, arquiteto, pintor e poeta, além de grande protagonista do Renascimento. Foi um artista maravilhoso, genial, mas ao mesmo tempo problemático e inconstante.
Os trabalhos famosos de Michelangelo conhecidos por todos são a Pietá e a Capela Sistina do Vaticano e o Davi de Florença.
Faça um tour pelas obras de Michelangelo com a autora do Passeios na Toscana – saiba mais aqui.
Mas Florença não tem somente o Davi como obra do grande Michelangelo, há vários locais com obras de Michelangelo. Você pode ver todos esses locais na lista que fiz neste texto: Michelangelo, o mestre do Renascimento – onde visitar suas obras na Toscana.
Ainda sobre Michelangelo, temos o texto – Aniversário de Michelangelo e algumas curiosidades…
Mas o que nem todo mundo sabe, é que Michelangelo trabalhou em vários locais em Florença, não somente fazendo uma obra, mas realizando edifícios, ou seja, foi o arquiteto de algumas obras importantes. E por essa razão decidi fazer uma série de textos sobre os lugares de Michelangelo em Florença.
Vou começar hoje com a Biblioteca Medicea Laurenziana.
Biblioteca Medicea Laurenziana
Decidi começar exatamente em um lugar pouco visitado e quase esquecido pelos muitos turistas e até mesmo pelos fiorentinos, a Biblioteca Medicea Laurenziana, projetada e em parte realizada por Michelangelo, uma opção interessantíssima para quem gosta de arquitetura.
Michelangelo era ocupado em 1523 no projeto da Sacrestia Nuova na Basílica di San Lorenzo, mas Giulio de´ Médici, logo após ser eleito o Papa Clemente VII, pediu a Michelangelo para realizar dentro do complexo arquitetônico de San Lorenzo (na área externa a igreja, de origem uso dos padres, como o convento e o chiostro) uma Biblioteca onde colocar a coleção de códigos e manuscritos dos Médici.
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Segundo conta um de seus biógrafos (Vasari), Michelangelo estudou profundamente o projeto, e em 1524 começou a sua construção.
A Biblioteca é composta de uma átrio (vestíbulo), da Tribuna D´Elci, e de uma sala de leitura que é a parte mais maravilhosa!
A visita:
Se você tiver a oportunidade de visitar a Biblioteca, poderá perceber que na chegada ao átrio (vestíbulo) seus olhos vão se sentir atraídos pela escada que mais parece uma cascata em onda.
A escada principal é dividida em 3, onde aquela ricamente decorada é a central, dando assim uma sensação de cachoeira com as bordas arredondadas em forma de “cascata” e nas pontas se alargam. Já nas laterais, há outras duas escadas mais retangulares. Aqui você pode ver o desenho original de Michelangelo da escada.
Outra coisa que as vezes passa desapercebido é a parede, Michelangelo usou um método visual para fazer com que as paredes parecessem maiores do que são, dividiu em 3 andares de janelas falsas criando assim uma sensação de verticalismo.
Depois entramos na sala de leitura, e é ai que Michelangelo demonstra toda a sua genialidade, pois criou neste ambiente duas fileiras de mesas/cadeiras, chamadas de plutei ou parapeitos, que tinham a dupla função de mesa de leitura e de custódia. Esses móveis, de acordo com Vasari, foram feitos pelos escultores Giovan Battista del Cinque e Ciapino seguindo os desenhos de Michelangelo.
As cadeiras foram muito estudadas por Michelangelo, pois ele queria algo que fosse confortável e ao mesmo tempo prático. Os manuscritos e velhos livros impressos eram colocados horizontalmente dentro dos bancos, divididos de acordo com o assunto (patrística, astronomia, retórica, filosofia, história, gramática, poesia, geografia) e nas laterais de cada balaústre ficava a lista dos livros neles contidos, onde a pessoa poderia primeiro já escolher, segundo a fileira, o argumento que lhe interessasse, colocar o livro a altura de leitura, aberto perpendicular ao rosto de quem le, facilitando assim a leitura.
Os livros já naquela época eram ligados por uma corrente, para evitar furtos. Veja o desenho do seu estudo aqui
Esta disposição foi mantida até o início dos século XX, quando os manuscritos foram transferidos para depósitos seguros na própria Biblioteca e os livros impressos, no entanto, foram entregues à Biblioteca Magliabechiana em 1783 e hoje esta na atual Biblioteca Nacional Central de Florença.
O teto de madeira de tília (1549-1550), foi esculpido por Giovan Battista del Tasso e Antonio di Marco di Giano, através dos desenhos de Michelangelo. O piso, de terracota vermelho e branco, foi realizado em 1548 por Santi Buglioni segundo desenho de Tribolo. A parte central reflete os motivos e imagens simbólicas, também presente no teto, fazendo alusão à dinastia Médici.
As janelas, com maravilhosos vitrais, foram desenhados por Vasari. Aqui você encontra um data base com fotos em lata definição de todos os vitrais.
Última sala da Biblioteca é chamada de Tribuna dell´Elci, é redonda, foi construída nas primeiras décadas do século XIX por Pasquale Poccianti, para abrigar a coleção doada à Biblioteca em 1818 por uma nobre florentina, Maria D’Angelo Holms. Acadêmico e bibliófilo, o Conde começou a juntar as primeiras edições impressas de autores clássicos para montar uma rica coleção que incluía um grande número de livros impressos na segunda metade do século XV, e edições Aldine.
A Tribuna foi inaugurado em 1841, e usada como uma sala de leitura até 1970. A coleção hoje foi colocada em depósitos mais adequados para a sua conservação e a sala é usada para reuniões, palestras, inaugurações.
Os Tesouros
Existem verdadeiros tesouros que foram por séculos conservados aqui, como os códigos de Tacito, Plinio, Eschilo, Sofocle, e Quintiliano, a ainda o de Virgilio correto em 494 por Rufio Turcius Aproniano Astério, bem como a mais antiga evidência de Corpus Juris de Justiniano, copiado logo após a sua promulgação, obras de fundamental importância pela singularidade e antiguidade. Ainda uma das três coleções completas dos Diálogos Platônicos em papel de bona (doados por Cosimo, o Velho, a Marsilio Ficino), o Código Squarcialupi (a única fonte de música entre os séculos XIV e XV), alguns autógrafos de Petrarca e Boccaccio, as histórias de Guicciardini com intervenções e a biografia de Benvenuto Cellini autografada. E por fim, mas não menos importante, uma coleção de 2.500 papiros, que é uma presença incomum nas bibliotecas italianas, resultado de escavações italianas no Egito, incluindo novas formas de Sappho e Calímaco.
Dicas:
- é possível fazer um percurso 3D dentro da Biblioteca aqui.
- e ainda ver as fotos da parte interna da Biblioteca, principalmente do local de conservação dos papiros e manuscritos antigos (depósito) – aqui.
Abaixo informações para a visita:
- A parte monumental (de Michelangelo) é aberta a visitação somente quando há exposições, portanto verifique antes de visitar se há alguma exposição no local.
- Entre 5 de setembro de 2016 à 5 de janeiro de 2017, a Biblioteca é aberta a visitação para a exposição mostra Miniature nei manoscritti laurenziani di Santa Croce (secc. XI-XIII)
Horário área monumental:
- Segunda-feira, quarta-feira, Sexta-feira: das 8,00 às14,00;
- Terças-feiras e quintas-feiras: 8.00 às 17.30;
- Sábado e domingo: fechado.
- a Biblioteca fechará nos dias 1 e 06 de janeiro, 25 de abril, 01 de maio, 02 de junho, 24 de junho, a festa de São Giovanni Battista (santo padroeiro de Florença) 15 de agosto de 01 de novembro, 08 de dezembro, 25 e 26 de Dezembro.
Preço: €3, ou €2,5 se comprado junto com a entrada da Basílica de San Lorenzo.
Horário área Biblioteca (consulta aos livros):
- Segunda, quarta e sexta das 8 as14.
- Terça e quinta: das 8 as 17:30
- Fecha aos sábados, domingos e feriados
- A Biblioteca todos os anos fecha as portas do dia 1 a 15 de setembro para revisão e limpeza
- Site: Biblioteca Medicea Laurenziana