Conheça um pouco da história e algumas curiosidades sobre a Basílica de Santa Croce, templo das glórias italianas em Florença, uma das maiores e mais peculiares basílicas franciscanas do mundo.
A Basílica de Santa Croce em Florença é muito mais do que uma igreja. Santa Croce é uma das mais antigas e maiores basílicas franciscanas do mundo, de uma magnificiência de deixar qualquer boquiaberto. Alguns dos artistas mais influentes da história deixaram sua marca na igreja, desde afrescos de Giotto e Agnolo Gaddi até as obras de arte de Brunelleschi e Donatello. Enquanto muitas basílicas na Itália contêm as obras de grandes artistas, Santa Croce é diferente de qualquer outra porque ela não contém somente as obras de arte desses gênios: nela também estão os restos mortais de grande parte dos grandes artistas do Renascimento, mas também da literatura, música, entre outros, por isso a basílica foi apelidada de “O Templo das Glórias Italianas“
Curiosidade: Santa Croce contém um maior número de túmulos de mestres do Renascimento do que qualquer outra igreja na Itália.
A história da Basílica
A igreja e o convento foram estabelecidos originalmente em 1220 em uma área pobre fora dos muros da cidade, algo que era conveniente para dois dos propósitos da ordem franciscana: ajudar os pobres e pregar a palavra de São Francisco às pessoas comuns. Os frades franciscanos construíram um pequeno oratório no local da igreja atual, e a praça na frente era um campo no qual as pessoas se reuniam para ouví-los pregar. O oratório era pequeno e simples, refletindo assim seus ideais de pobreza e vida simples.
Com o passar dos anos e a expansão da cidade, a igreja passou a ficar dentro dos limites das novas muralhas. Cercada por uma população maior, surgiu a necessidade de ampliação da igreja. Assim, em 1294 iniciou a nova construção projetada por Arnolfo di Cambio, mas ela só foi completada 90 anos depois, em 1385. A igreja foi consagrada somente em 1443.
Embora a estrutura básica da igreja tenha permanecido a mesma, houve muitas reorganizações internas (das capelas) ao longo dos anos, particularmente depois de um incêndio desastroso em 1423 e depois no final de 1500.
Seu exterior de pedra áspera original, muito parecido com o da igreja de San Lorenzo como ainda o vemos hoje, permaneceu inalterado por quatro séculos. Apesar das muitas tentativas de embelezar a fachada ao longo dos séculos, isso não aconteceu até 1857, quando ao arquiteto Niccolò Matas foi dada a tarefa de criar a sua atual fachada neogótica de mármore branco, verde e rosa.
Fachadas e aspectos externos
A fachada que vemos atualmente foi criada entre 1853 e 1863, projetada por Niccolò Matas e imediatamente criticada por seu estilo neogótico artificial. As obras foram financiadas por um rico protestante inglês chamado Sloane. A estrela de David inserida no tímpano da fachada, embora não seja desconhecida como um símbolo cristão, é geralmente entendida como uma alusão à fé religiosa do arquiteto.
A torre campanária também é bastante recente, construída em 1847 por Gaetano Baccani (a torre original, do século XVI, nunca foi completada por falta de fundos). O material utilizado foram os tijolos típicos de pedra calcária florentina de cor amarelada, já utilizada na construção de outras partes da igreja. A estrutura parecia mais leve graças à presença de janelas de uma única lanceta, quadros e uma lanterna na cúspide, revelando uma inspiração moderna e eclética.
O monumento a Dante que se encontra à esquerda da Basílica de Santa Croce foi colocado ali apenas no final da celebração dedicada a ele em 1865, em ocasião do aniversário de 600 anos do poeta. A estátua foi inaugurada no centro da praça, mas foi movida mais tarde, para permitir que acontecesse as partidas de futebol florentino.
O interior da Basílica
O interior imponente é formado por uma nave e dois corredores laterais separados por paredes finas e arcos sustentados por pilares octagonais, uma estrutura que lembra as basílicas cristãs de Roma, onde Arnolfo trabalhou por um longo período.
O interior é extremamente largo e solene, tem a forma de uma cruz egípcia, que é um ‘T’, típico de outras grandes igrejas-convento. Arnolfo, respeitando o espírito franciscano, desenhou uma igreja com grandes aberturas destinadas a iluminar as paredes que, como em outras igrejas franciscanas – principalmente as de Assis – deviam conter grandes afrescos com ciclos figurativos com a intenção de explicar aos analfabetos as Sagradas Escrituras (a chamada Bíblia dos Pobres).
Apesar do espírito franciscano que prega a simplicidade, a grande Basílica de Santa Croce foi construída com contribuições da mais importantes famílias de Florença, contendo várias capelas. Essas capelas foram destinadas a funerais de doadores e receberam extensas decorações realizadas pelas mãos dos maiores mestres da época.
As paredes da basílica foi decorada com afrescos que retratam as “Histórias de São Francisco” de Giotto e seus alunos. Donatello também quis deixar na igreja um testemunho da sua passagem, esculpindo um belo crucifixo (1425) e uma Anunciação (1430-1435).
A beleza da Igreja foi parcialmente ofuscada pela remodelação do século XVI. O chão é coberto com lápides antigas ao longo de todo o comprimento da nave.
As capelas
Há muito para ver na Basílica de Santa Croce, e uma das coisas principais são as suas capelas. Dez capelas das famílias importantes de Florença foram construídas dentro da igreja entre 1295 e 1310, mas as decorações com afrescos sobreviveram em somente quatro.
A Capela Maior
Dedicada à Santa Cruz, a capela foi afrescada por volta de 1380 por Agnolo Gaddi – filho de Taddeo, um dos discípulos de Giotto. As histórias, contadas com grande vivacidade, seguem o texto da lenda dourada de Jacopo da Voragine e se desenvolvem a partir de cima para baixo, em primeiro lugar na parede à direita e depois na parte da frente, traduzindo-se em uma imagem a história complexa e antiga da madeira da Cruz de Cristo .
As capelas da direita
Mais importantes são os afrescos nas duas capelas seguintes, a Capela Peruzzi e a Capela Bardi. Ambos decorados por Giotto entre 1320 e 1325. Na primeira, são retratadas as histórias de São João Batista e São João Evangelista. Na capela Bardi há as histórias de São Francisco. Ambos os afrescos foram executados mais tarde pelo mestre inovador da arte ocidental e representam o ápice de seu trabalho e seu testamento artístico que influenciou muito as próximas gerações de pintores florentinos.
Na parte superior direita do transepto encontra-se a capela de Baroncelli, decorada com afrescos do grande discípulo de Giotto, Taddeo Gaddi com histórias da Virgem (1332-1338). A Capela Castellani foi afrescada pelo filho de Taddeo, Agnolo Gaddi com algumas ajudas, enquanto o tabernáculo é obra de Mino da Fiesole.
Capelas da esquerda
Destaca-se no final do transepto a capela Flea-Berardi com afrescos de Bernardo Daddi (século XIV) e uma cerâmica vidrada de Giovanni della Robbia (sobre o altar). A última no lado do transepto é a capela de Bardi di Vernio, afrescada por Maso di Banco, com as histórias de São Silvestre. A terceira capela do transepto tem o mesmo nome, Bari de Vernio e é nela que fica mantido o Crucifixo de Donatello.
Curiosidade: Segundo Giorgio Vasari, houve uma disputa entre Donatello e Filippo Brunelleschi, que falou mal desta obra: para Brunelleschi, o Cristo era muito áspero e mais parecia um camponês na cruz! Brunelleschi, para mostrar ao amigo Donatello como realmente se fazia um crucifixo, esculpiu uma belíssima obra que hoje pode ser admirada em Santa Maria Novella.
Capela dos Medici
A Capela dos Medici, realizada por Michelozzo, foi construída para Cosimo o Velho, está na parte de trás. Ela possui uma decoração muito simples e essencial, onde se sobressaem um retábulo elegante de cerâmica vidrada de Andrea della Robbia e um magnífico baixo relevo realizado por Donatello.
Curiosidade: Com a morte de Galileu, o então Papa Urbano VIII Barberini, não se sentir bem que você dedicar um importante túmulo monumental em Santa Croce, entre outros grandes, a um condenado do tribunal da Inquisição. Por isso os padres de Santa Croce acharam melhor enterrar Galileo num local “escondido” à esquerda da foto (onde há um grupo de pessoas) dentro de uma pequena capela.
Cappella de’Pazzi
Ao lado da Basílica de Santa Croce fica um belo claustro do século XIV, com arcadas em puro estilo toscano e que revela uma outra magnífica obra-prima de Brunelleschi, a Cappella de’ Pazzi, uma jóia de graça e harmonia de linhas. É decorada com medalhões que reproduzem cabeças de querubins e com uma pequena cúpula em cerâmica realizada por Luca della Robbia. A magnífica porta foi esculpida por Giulio da Maiano. O interior é retangular, tem paredes brancas, nuas, mas as linhas são fortemente enfatizada por pilastras e pedras escuras. Se sobressaem as brilhantes decorações em terracota vitrificada de Luca della Robbia ilustrando os Apóstolos e Evangelistas.
A Capela Pazzi é um raro exemplo de harmonia e beleza no clima artístico do início do Renascimento.
O mosteiro, o claustro e o museu
O mosteiro de Santa Croce é um dos maiores da cidade. Assim como aconteceu em Santa Maria Novella, os ambientes foram gradualmente destinados a outras funções a partir do final do século XVIII. Por exemplo, a Biblioteca Nacional Central de Florença está em uma área que fazia parte do primeiro convento e hoje, entre as várias atividades realizadas no mosteiro há uma escola infantil e uma escola para artesãos de couro, que tem um showroom perto da sacristia.
A parte mais monumental do complexo, formada pelo antigo refeitório com o Cenáculo, foi transformada em museu em 1900, onde já havia um depósito de obras de arte. O museu foi sendo ampliado lentamente e em 1959 passou a ser chamado Museo dell’Opera di Santa Croce do museu, mas com a terrível inundação de Florença de 1966, com a água alcançou 4,88m em Santa Croce, foi necessário fechar o museu por um bom tempo, para realizar as restaurações necessários. Foi reaberto somente em 1975 e um ano mais tarde, o crucifixo Cimabue gravemente danificado pela água foi mostrado no museu.
Desde os anos 2000 passou-se a cobrar um ingresso para a entrada no complexo de Santa Croce, o que reduziu o impacto do turismo de massa sobre os tesouros da basílica, mas que por outro lado desencadeou uma polêmica no que diz respeito a cobrar por um ingresso em um templo espiritual.
Em Novembro de 2006, logo após a celebração dos quarenta anos de inundação, dezenove obras voltaram ao seu lugar após uma meticulosa e complexa restauração. Entre as pinturas do século XIII retornaram: “Madonna con il bambino e i santi” de Nardo di Cione, a Coroação da Virgem de Lorenzo di Niccolò, uma Deposição da Cruz da época do Renascimento, de Francesco Salviati (que sofreu uma recuperação quase milagrosa depois que ele foi encontrada rasgada em pedaços) e muitas outras. Há também no refeitório dos frades um importante ciclo de afrescos da “árvore da vida” realizado por Taddeo Gaddi, um seguidor de Giotto. Há também uma estátua de São Luís de Tolosa realizada por Donatello originalmente destinada a Orsanmichele.
As tombas da Basílica de Santa Croce
Santa Croce sofreu uma transformação arquitetônica no final do século 16, que envolveu a construção de grandes altares embelezados com pinturas dos maiores artistas da Toscana da época. No entanto, foi com a construção do túmulo de Michelangelo que a basílica se tornou um lugar de descanso favorito dos grandes italianos e ganharia seu título como “O Templo das Glórias italianas”.
E é a de Michelangelo a primeira tumba que encontramos ao entrarmos na Basílica. A lenda diz que ele escolheu esse local para ser sepultado, pois queria que a primeira coisa que ele visse no dia do Juízo Final fosse a cúpula de Brunelleschi vista através das portas abertas da Basílica de Santa Croce. Michelangelo está enterrado sob um monumento com figuras alegóricas da escultura, da arquitetura e da pintura projetadas por Giorgio Vasari em 1570. A estrutura era tão bonita que serviu como um modelo para todos os outros túmulos que seriam construídos na igreja.
Exatamente na frente do de Michelangelo está o túmulo de Galileu, que morreu em 1642. O grande astrônomo nasceu em Pisa, mas passou a parte posterior de sua vida em Florença, sob o patrocínio dos Médici, depois que a Inquisição romana intimidou-o a retrair a sua crença de que A terra gira em torno do sol. Seu monumento não foi construído até 1737, quando seus restos foram finalmente permitidos um enterro cristão. A estrutura foi projetada por Giovanni Battista Foggini.
Perto das tumbas de Michelangelo e Galileu há uma homenagem a Dante Alighieri. Os restos do maior poeta da Itália não se encontram ali, mas foram enterrados em Ravenna, cidade onde morreu, visto que ele foi exilado de Florença por causa de suas atividades políticas em 1302 e não foi autorizado a retornar.
Quase a meio caminho da nave de Santa Croce está o túmulo de Maquiavel, o teórico político cuja filosofia brutalmente pragmática influenciou tanto os Medici. Ele morreu em 1527, mas seu túmulo não foi construído até 1787. O monumento de Maquiavel é uma estrutura de mármore criada por Spinazzi que leva a inscrição “Tanto nomini nullum par eulogium”.
O túmulo de Lorenzo Ghiberti, criador das portas de bronze do Batistério da Catedral de Florença, que Michelangelo chamou de “Portas do Paraíso”, é muito mais simples do que o de seus contemporâneos. Os restos de Ghiberti são marcados pelo emblema de uma águia no chão da basílica.
Mais adiante fica o túmulo de Leonardo Bruni, um renomado orador e diplomata florentino. Bruni foi um estudioso conhecido por suas traduções de Platão e Aristóteles e seus escritos sobre a história de Florença. Quando Bruni morreu em 1444, seus últimos desejos foram que seus restos fossem colocados em um monumento funerário de estilo antigo. A estrutura, executada por Bernardo Rossellino, apresenta a arte romana antiga em vez de imagens religiosas, cumprindo assim o pedido final de Bruni.
No final da nave de Santa Croce está o túmulo do compositor de ópera Gioachino Rossini, que morreu em 1868. Ele escreveu 39 óperas, incluindo “O Barbeiro de Sevilha” e “Cinderela”, tendo sido o compositor de ópera mais popular da história. Seu monumento foi criado em 1900 por Giuseppe Cassioli.
Curiosidade: na sacristia fica, dentro de um relicário, parte da veste usada por São Francisco.
Informações
Bilhetes:
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Bilhete inteiro: € 8,00
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Bilhete reduzido: € 4,00 para adolescentes entre 11 e 17 anos e grupos de pelo menos 15 pessoas.
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Bilhete gratuito para: os menores de 11 anos, residentes em Florença e província, deficientes físicos e seus acompanhantes.
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Bilhete família: into (= € 8) para os adultos e gratuito para os filhos menores de 18 anos.
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Aluguel do áudioguia: € 1,50
A entrada para os visitantes fica no Largo Bargellini, no lado esquerdo olhando para a fachada da basílica. A bilheteria está localizada no pórtico no Largo Bargellini, imediatamente antes da entrada.
Horários:
A Basílica de Santa Croce fica aberta de segunda a sábado, das 9:30 às 17:00. Domingos e os feriados de 6 de janeiro, de 15 de agosto, de 1º de novembro e de 8 de dezembro, das 14:00 às 17:00.
A Basílica não abre nas seguintes datas: 1º de janeiro, Domingo de Páscoa, 13 de junho (dia de Santo Antonio), 4 de outubro (dia de São Francisco), e nos dias 25 e 26 de dezembro.
A bilheteria fecha às 17:00 e não é possível entrar após este horário, mesmo com o bilhete em mãos.
Em caso de eventos extraordinários acontecendo na Piazza Santa Croce (por exemplo: jogos de futebol histórico de Florença, no final de junho), o horário de fechamento da Basílica pode ser antecipado.
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