Conheça uma das histórias mais fascinantes de Florença, a história de Anna Maria Luisa De’Medici, a mulher que mudou a história de Florença.
Florença é, para os seus habitantes e para o mundo todo, uma relíquia das artes, mas tudo isso nós podemos conhecer hoje, e em Florença, graças a uma mulher, uma fiorentina que há muitos anos atrás, não acompanhada da mentalidade e nem da realidade política da sua época, mas apenas de sua cultura, sua inteligência e, não menos importante, pelo seu imenso amor pelas artes e pela sua cidade, modificou o curso da história de Florença.
Esta mulher é Anna Maria Luisa de ‘Medici (1667-1743), a última Granduquessa da Toscana, a única filha nascida do casamento do Grão-Duque Cosimo III e Marguerite -Louise d’ Orléans, e que o destino quis que fosse a última Medici para desgosto do seu pai, pois nem ela, nem seus dois irmãos deixaram um herdeiro.
HISTÓRIA DA SUA VIDA
Anna Maria Luisa quase não nasceu na verdade, pois a sua mãe, Marguerite Louise d’ Orleans, decidiu andar a cavalo durante a gravidez em uma tentativa deliberada de abortar, mas a forte Anna Maria Luisa sobreviveu. Marguerite Louise tinha muito pouco carinho por seu marido, Cosimo III de ‘Medici, e nunca perdeu uma oportunidade para manchar sua reputação. Por fim conseguiu obter um ato de separação de Cosimo e a permissão de tornar a França, quando Anna Maria Luisa ainda era jovem, deixando-a para ser criada por seu pai (que segundo contam adorava sua filha) e sua avó paterna. Quando chegou a hora de Anna Maria Luisa se casar, no entanto, ela foi rejeitada por muitos pretendentes com medo de que ela tivesse herdado a personalidade desagradável de sua mãe.
Ela finalmente se casou com um homem mais velho, Giovanni Guglielmo II di Wittelsbach-Neuburg, conhecido também como Eleitor Palatino, com quem teve um casamento feliz. Anna Maria Luisa engravidou uma vez durante o casamento, mas, infelizmente, abortou. Pensa-se que ela pode ter contraído sífilis de seu marido, que vinha lutando com a doença antes de seu casamento.
Por sugestão de Cosimo III, Anna Maria Luisa usou suas conexões políticas para organizar o casamento de seu irmão mais novo, Gian Gastone. Infelizmente, ele foi imensamente descontente com sua noiva, Anna Maria Franziska de Saxe- Lauenburg, que absolutamente o desprezava e o casamento não durou, Gian Gastone vivia despudoradamente a sua homossexualidade, ao fim do casamento voltou a Florença.
Com dois dos três filhos sem herdeiros, as esperanças de Cosimo III foram todas para o seu filho mais velho, Ferdinando, que foi educado para sucedê-lo como Grão-duque da Toscana. Infelizmente, Ferdinando morreu antes que pudesse suceder seu pai. Seu casamento, como os de seus irmãos, também não tinha filhos.
HISTÓRIA DE PODER
Após a morte de Gian Gastone, seu irmão, Anna Maria Luisa teve a difícil tarefa de ter que transportar o Grão-Ducado da Toscana, do governo Médici para um “estrangeiro ” com a família austríaca Asburgo-Lorena.
No Governo da Toscana durante séculos, os Medici tinham recolhido milhares de operas de arte. Era o costume que o novo sucessor da família no comando de uma cidade ou de um Estado, herdar da família anterior também as coleções de arte, portanto, os Asburgo-Lorena poderiam usar como quiser as obras, envia-las a Áustria, trocar ou vender. Porém Anna Maria Luisa não permitiu que isso acontecesse.
A história da transferência de poderes dos Medicis aos Lorena e a preservação do patrimônio artístico de Florença ocupou os últimos anos da vida de Anna Maria Luisa e marcou o culminar de toda uma vida dedicada a perpetuar, por todos os meios, a glória e a memória de sua família, que no grupo de patronos de arte ostentava um lugar de honra como a própria cidade testemunhou.
No alvorecer do Iluminismo, para defender o patrimônio artístico de Florença, evitando a dispersão, Anna Maria Luisa decidiu usar uma nova arma, a arma da lei, a única que podia. Ela passou os últimos anos a catalogar todos os bens da sua familia e redigiu ao fim, o chamado Pacto de Familia, onde concede “aos seus sucessores os Grandes Duques todos os móveis, efeitos e raridades da sucessão do Sereníssimo Grão- Duque seu irmão, como Galerias, pinturas, estátuas, Bibliotecas, Joias e outras coisas preciosas, as relíquias sagradas, que seus sucessores Asburgo-Lorena estão empenhados em preservar, a condição expressa de que estes bens são para o ornamento do Estado, e para a utilidade pública, para atrair a curiosidade dos estrangeiros, portanto que nada seja transportado e levado para fora da capital e do Estado do Grão-Ducado “.
Então, com esse Pacto Anna Maria Luisa de Médice impediu que as coleções de arte coletados pelos Medici ao longo dos séculos, fossem vendidos, mantendo a promessa de entrega-los para o novo Grão-Duque, mas com a condição de que eles permanecem ligados “para sempre” para a cidade de Florença e do Estado da Toscana, dando assim ao POVO FLORENTINO O QUE ERA SEU DE DIREITO.
Para compreender o significado do seu grande ato, basta visitar o Uffizi ou o Palazzo Pitti, pois o que de importante produzido entre 1400 a 1740 em Florença foi adquirido pelos Medice e daqui nunca saiu, fazendo assim a cidade berço da arte e do Renascimento, digna hoje da sua visita. Ou seja, graças a ela Florença permanece como polo mundial de arte e cultura!!!
Seu amor por Florença e as artes pode ser retribuído pelos florentinos e por aqueles que, a partir de qualquer lugar do mundo, vêm para admirar a cidade mantendo assim viva a memória do último representante da dinastia Médici. Em 1743, graças à sua aliança, no dia 18 de fevereiro, dia da sua morte, ao invez de ser um dia triste ele é comemorado, pois a Anna Maria Luisa vai a gratidão de todos os amantes da arte (do meu principalmente), e de qualquer um que acredita na CULTURA, através da qual um povo pode reconhecer em si mesmo a sua própria história.
A festa:
Por isso neste dia, 18 de fevereiro ocorre no Palazzo Vecchio, uma comemoração, uma homenagem dada a ela por um cortejo histórico da Republica Florentina as 10:20 com inicio na Piazzeta de Parte Guelfa, percorrendo as ruas do centro até a Capela dos Medici (Cappelle Medicee).
Ainda, visitas guiadas gratuitas na mesma capela e pelo Palazzo Vecchio – cujas obras públicas e privadas vivem em Florença graças a Anna Maria Luisa de ‘Medici.
É um dia dedicado à sua memória, para fazermos uma pausa e refletir sobre o legado moral de Anna Maria Luisa, que sublima em certo sentido, o legado de Florença, a sua mensagem de civilização e de cultura para o mundo.
Entrada gratuitas nos seguintes museus:
Em 18 de fevereiro, o acesso ao Palazzo Medici Riccardi é gratuito para todos, assim como em todos os museus cívicos de Florença;
– Palazzo Vecchio 9-19 e Torre 10-17 (leia sobre ele aqui)
– Museu Novecento 11-19 horas (leia sobre ele aqui)
– Santa Maria Novella das 9 às 17h30 (leia sobre ele aqui)
– Palazzo Medici Riccardi 9-19 horas
– Capelas Médici também estarão abertas gratuitamente, das 8h15 às 13h50 (última entrada às 13h20). (leia sobre ela aqui)
Os museus não permitem entrada 1 hora antes do fechamento!
Mais sobre Anna Maria:
Quem quiser saber mais sobre Anna Maria Luisa, indico esses dois livros em italiano, que eu devorei!
*Fotos: Wikipedia Commons /Comune di Firenze
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